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Dentro do tabuleiro, o sustento: Mulheres vendedoras de comida da Cidade de Belém no século XIX

 

Talita Almeida do Rosário

No Brasil do século XIX, a venda de comida por mulheres era uma atividade comum. E assim como nas outras cidades ao longo do País, em Belém o cotidiano das ruas também foi marcado pela presença delas, as quais formavam o grupo das quitandeiras, mulheres negras escravas, forras e pobres livres,vendedoras de comida ambulantes que andavam carregando seus tabuleiros ou panelas ou em pontos fixos, como em suas casas ou em barracas.

 

Fidanza, Felipe Augusto. Vendedora de frutas em Belém do Pará, c.1869. Belém (PA). Convênio Leibniz Institut fuer Laenderkund, Leipzig/Instituto Moreira Salles

As quitandeiras vendiam uma variedade de alimentos como doces, frutas, sopas e mingaus. Principalmente os que faziam parte dos hábitos alimentares na Amazônia, como mostra o noticiário do Diário de Belém de 22 de Janeiro de 1889 que na rua do Imperador, um homem chamado “Juvêncio de tal” comeu um pedaço de Piramutaba frito de uma quitandeira e se recusou a pagar o que devia¹, o peixe era durante o século XIX a base alimentícia das classes baixas como a de escravos, de forros e de pessoas pobres livres, os quais compunham em maioria a clientela que elas atendiam. Assim como o açaí, descrito no romance Hortênsia pelo escritor paraense Marquês de Carvalho, no qual as ruas de Belém ganhavam vida com as vendedeiras de açaí passando com suas vasilhas sobre a cabeça a oferecer aos fregueses “E...e...eh! Açaí fresqui...i..i..nho!” ²

Fidanza, Felipe Augusto. Vendedora de frutas em Belém do Pará, c.1869. Belém (PA). Convênio Leibniz Institut fuer Laenderkund, Leipzig/Instituto Moreira Salles.

Esse trabalho era o principal meio dessas mulheres garantirem o seu sustento e de suas famílias ou de seus senhores como escrava de ganho, demonstrando uma participação ativa e significativa da mulher na renda familiar, mesmo em uma sociedade em que o preparo e a  venda de comida eram práticas executadas pelo gênero feminino e em maioria por  negras e mestiças, como se pode ver no relato de Henry Bates em viajem à Amazônia entre 1848 e 1859 ,no qual conhece Tia Rufina, uma senhora negra que enquanto na condição de escrava consegue permissão para atuar nesse mercado, pagando parte para seu senhor, o que a possibilitou de comprar a sua alforria e de seu filho. E depois de livre, Tia Rufina continuou com seu comércio, fazendo assim lhe render lucro o suficiente para comprar uma casa “localizada numa das principais ruas da cidade”. ³

Notas

 

¹Diário de Belém:Folha política, Noticiosa e Commercial (PA), 22 de Janeiro de 1889, n 18

 

² Carvalho,João Marques Hortência. Belém: FCPTN/SECULT, 1997, p.27

 

³BATES, Henry Walter. Um naturalista no Rio Amazonas. Tradução Mário Guimarães Ferri. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979. p. 45 Apud; NETO, José Maia Bezerra; MACÊDO, Sidiana da C. Ferreira. A quitanda de Joana e outras histórias: os escravos e as práticas alimentares na Amazônia (séc. XIX). Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, nº 38, 2009, p 7

 

Bibliografia

 

NETO, José Maia Bezerra; MACÊDO, Sidiana da C. Ferreira. A quitanda de Joana e outras histórias: os escravos e as práticas alimentares na Amazônia (séc. XIX). Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, nº 38, 2009,

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