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Percepções das práticas alimentares e de abastecimento no século XIX: A  hora do chá de Alice

Victória Emi Murakami Vidigal

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                                                       Fonte: Capa da obra Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll. Versão eBook. Editora Arara Azul, 2002.

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                                                Fonte: Ilustração de Sir John Tenniel (1820 – 1898), página 63 da obra de Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll. Versão eBook. Editora Arara Azul, 2002.

“Havia uma mesa arrumada embaixo de uma árvore em frente à casa, e a Lebre de Março, o Chapeleiro estavam tomando chá; um Leirão estava sentado entre os dois (...). A mesa era grande , mas os três amontoavam-se num canto. “Não tem lugar! Não tem lugar!”, eles gritavam ao ver Alice chegando. “Tem muito lugar!” disse Alice com indignação, e sentou-se em uma grande poltrona numa das cabeceiras da mesa”.” (CARROLL, 2002, p. 63).

A obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, é conhecida mundialmente, entre suas várias adaptações literárias e também para as telas de cinema. Todo mundo já deve ter ouvido falar no Chapeleiro Maluco ou na Porção Mágica que diminui ou aumenta, ou até mesmo na Rainha de Copas. O mundo mágico de Alice nos faz viajar no espaço dando um olhar diferenciado aos animais e objetos, todos com alguma peculiaridade. Existem objetos e personagens marcantes em sua história, uma vez que podem ser levados para um novo debate, ampliando a percepção histórica através da alimentação e da cultura material.

O objetivo de trazer a obra de Carroll para a História, especificamente escolhido o capítulo 7 “Um chá Maluco”, é proporcionar uma ampla percepção e uma construção histórica da vida social ao longo dos séculos através da cultura material, além de compreender a época que a obra fora escrita. Podendo trabalhar temporalidades e espacialidades. Fernand Braudel[1] faz com que possamos perceber a economia e a sociedade através do seu consumo e da sua alimentação. Ao analisar este capítulo, é destacado alguns objetos que compõe a “hora do chá”: chá, relógio de bolso, manteiga, xícara de café e o melado. Estes objetos dizem muito da sociedade inglesa daquela época, podendo assim, começar a história de um debate através destes, e de como eles influenciaram a alimentação e o abastecimento no Brasil. Quem obtinha práticas semelhantes a estes e como eram as práticas alimentares dos demais grupos sociais. Vale ressaltar que a hora do chá é um costume da Era Vitoriana no século XIX, no qual trouxe influências para o Brasil posteriormente, como o luncheon ou a hora do chá transformou-se na “hora da merenda” no país [2] , percebe-se que, como o Brasil tinha uma produção maior de café, o chá fora substituído por ele na composição da mesa[3]. O melado, ou o açúcar, traz também um debate político e econômico, no qual podemos ressaltar as experiências vividas nas colônias. Tão como a manteiga e as porcelanas que foram usadas de diferentes formas e por diferentes grupos sociais, a composição de cada mesa e de todos os objetos eram diferentes. A literatura traz essa grande percepção a História, mostrando que estes pequenos objetos contam grandes histórias.

Nem todo mundo tomava ou toma chá, mas uma grande maioria senta-se a mesa para a hora da merenda com o seu café. Mas podemos perceber isto, através de uma história juvenil, no qual tem uma ligação social, econômica, cultural e política através da composição da mesa e da alimentação de uma dada sociedade.

[1] BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII: as estruturas do cotidiano. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII: As estruturas do cotidiano, 1995.

[2] LIMA, Tânia Andrade. Pratos e mais pratos: louças domésticas, divisões culturais e limites sociais

no Rio de Janeiro, século XIX. Anais do Museu Paulista: história e cultura material, v. 3, n. 1, p. 83-84, 1995.

[3] Não que o chá não fosse consumido no Brasil, mas o café conseguia uma demanda maior na hora da mesa e da sua exportação também.

Bibliografia:

BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII: as estruturas do cotidiano. Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII: As estruturas do cotidiano, 1995.

CARROLL, Lewis. Alice – edição comentada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

LIMA, Tânia Andrade. Pratos e mais pratos: louças domésticas, divisões culturais e limites sociais no Rio de Janeiro, século XIX. Anais do Museu Paulista: história e cultura material, v. 3, n. 1, p. 83-84, 1995

 

LOPES, Eliane Marta Teixeira. História da Educação e Literatura: algumas idéias e notas. Educação. Revista do Centro de Educação, v. 30, n. 2, p. 157-176, 2005.

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